Recursos Didáticos

Autores

  • PROFa. SONIA DUTRA DE ARAUJO
  • PROFa. ELISE DE MELO BORBA FERREIRA

Palavras-chave:

Recursos Didáticos

Resumo

Baseado em reflexões sobre as percepções do aluno cego na construção do conhecimento, o trabalho destaca a importância dos recursos didáticos no seu processo ensino-aprendizagem.
Assim, além dos recursos específicos básicos para o ensino na área da deficiência visual (reglete e sorobã) , os recursos didáticos alternativos, confeccionados com sucata, e os recursos didáticos facilitadores, como os modelos e os materiais elaborados em relevo e reproduzidos em THERMOFORM, tornam-se imprescindíveis nas escolas, sobretudo quando se pensa na Escola Inclusiva.
Nossa experiência, enquanto professoras no Instituto Benjamin Constant, nos possibilitou este estudo.

Se construímos nosso conhecimento na interação com o meio ambiente, a prática pedagógica se revela significativa quando o professor consegue apresentar os conteúdos teóricocientíficos de suas disciplinas de forma tal que os alunos possam experimentá-los nas suas vivências.

A realidade que nos circunda é extremamente rica e o professor nela deve se apoiar para que o processo ensino-aprendizagem se desenvolva com eficiência e eficácia. Ela deve se constituir no seu primeiro recurso didático. Levar o aluno a explorá-la , testá-la, experimentála é, certamente, garantir-lhe um aprendizado
qualitativamente superior. Ler a seu respeito ou ouvir alguém descrevê-la, não oferecem o mesmo nível de conhecimento. Contudo , por ser o ambiente físico extremamente rico e complexo e a prática pedagógica estar contida numa fração do tempo, nem sempre podemos ou conseguimos ter acessibilidade direta a ele. A representação simbólica da realidade, na sua forma tri e/ou bidimensional se mostra, então, como um outro tipo de recurso didático a ser utilizado pelo professor para propiciar ao aluno uma nova maneira de interagir com os elementos constitutivos da realidade.

Tentando uma síntese, podemos dizer que são recursos didáticos tudo aquilo que está disponível na natureza, todos os artefatos culturais, incluindo aí a representação simbólica da realidade por ser ela, também, fruto da criatividade humana. Todos eles perseguem o mesmo objetivo: a construção do conhecimento. Como todo saber se instala nos horizontes da percepção, a cognição se processará pela integração da percepções visual, auditiva, tátil,
cinestésica, olfativa e gustativa frente aos recursos didático-pedagógicos pertinentes à sistematização dos conteúdos acadêmicos planejados pela escola.
A escola que se pensa neste final de século, a Escola Inclusiva, visa atender às necessidades educativas de todos os seus alunos. Espera- se, portanto, que esta escola ofereça aos alunos cegos os recursos necessários para que ele possa perceber a realidade e construir seu conhecimento a partir de suas percepções tátilcinestésica, auditiva, olfativa e gustativa. Para que seu processo de ensino-aprendizagem não se sustente no verbalismo, todos os recursos didáticos nele utilizados têm que levar em conta sua maneira peculiar de perceber a realidade.

Para que a configuração mental de um objeto assuma forma significativa, o aluno cego precisa agir sobre ele, tocando-o, explorando-o tatilmente. Mas, pode ser, também, que sua percepção tátil-cinestésica seja insuficiente para apreender este mesmo objeto na sua totalidade e o nosso sujeito ativo recorrerá aos seus outros sentidos, o auditivo, o gustativo e o olfativo. Assim, é preciso reconhecer que o aluno cego terá acesso a uma gama restrita de informações se as compararmos com às disponíveis ao aluno vidente e que este acesso se processa de um modo diferente. Por isto é bom lembrar que embora ele perceba o mundo de forma diferente, a matéria prima para sua percepção é a realidade que se mostra a todos, mas ela só lhe será significativa se lhe fornecer elementos sensíveis às suas percepções.

Conclui-se, então, que tanto para o aluno vidente quanto para o aluno cego o melhor recurso didático são os objetos concretos, naturais, reais e não as suas representações simbólicas.
A estas o professor vai recorrer como uma outra possibilidade de materializar o real na sua tri ou bidimensionalidade. As representações simbólicas costumam fazer parte do acervo pedagógico das escolas, porém, nem sempre atendem às necessidades dos alunos cegos, porque foram criados obedecendo a padrões de uma cultura que se constrói baseada nos estímulos visuais. 

Os recursos pedagógicos, na grande maioria, são resultados da produção industrial e facilmente encontrados no comércio. Alguns são significativos para o aluno cego. Exemplo típico se evidencia com os sólidos geométricos, jogos de encaixe e similares. Outros tantos podem ser adaptados às suas
percepções, mediante acréscimos de marcações em relevo, sem prejudicar a percepção daqueles alunos que têm a visão como seu principal canal receptor de informações. Neste caso encontram-se os instrumentos de medir comprimento, os mapas de encaixe, o globo terrestre, a balança e outros.
Valendo-se de bom senso e criatividade, o professor poderá, ainda, confeccionar vários materiais que atendam às necessidades específicas do aluno cego. Utilizando sucata, ou seja, reaproveitando materiais simples que normalmente desprezamos, tais como embalagens descartáveis, frascos, tampas, retalhos de tecidos, pedaços de papelões, caixas, barbantes etc., pode-se produzir uma infinidade de recursos didáticos de baixo ou quase nenhum custo. Esta atividade, sempre que possível, deve contar com a participação do aluno, fato que contribuirá para que ele mais rapidamente compreenda a sua utilização. 

Na seleção, adaptação e confecção de recursos didáticos para o aluno cego, o professor deve levar em conta critérios básicos em relação ao tamanho, à significação tátil e à aceitação, não provocando rejeição no manuseio, de modo que se constituam em meios eficientes no processo ensino- aprendizagem.

 

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Publicado

2019-09-05